Misto Quente (Charles Bukowsky)

terça-feira, 4 de agosto de 2015


“Qualquer outra coisa, qualquer outra coisa que me fizesse parar de afundar nessa existência tediosa, trivial e covarde”.

Livro maravilhoso de Charles Bukowsky, Misto Quente é meio que uma autobiografia da infância do autor.  Entretanto, no livro, Bukowsky faz uso de seu alter ego, Henry Chinaski, e conta para nós a história, que se passa por volta dos anos 1920 até mais ou menos 1940. Durante a leitura, achei muito engraçado como os EUA nos anos 30 parecia tanto com o Brasil nos anos 80.

O enredo é narrado com crueza e sem pudor. É a pura realidade de Bukowsky, e é muito legal como o autor não se oprime e não deixa nenhum fato ou sentimento vergonhoso de lado: tem ele apanhando do pai; um colega batendo uma para o cachorro; ele desistindo de transar com uma mulher mesmo ela estando nua, na frente dele; ele dando vários PTs depois das bebedeiras; apanhando em brigas; enfim, a juventude de Henry Chinaski foi bem conturbada.

O enredo passa por várias temáticas como sexo, depressão, adolescência, brigas, família, amigos, isolamento, aquela sensação de não se encaixar, a pobreza, a desigualdade, enfim, o que mais tem nesse livro é Henry reclamando do cabaço, dos pais, da sociedade, da escola e claro, muitas BRIGAS. Gente, a cada dois capítulos tem porrada. Como esse povo brigava!



O livro tem várias passagens excelentes, como a do título dessa resenha, é muito filosófico, pessimista e como já disse antes, real. Peguei alguns trechos para vocês:

1- “O problema era que você tinha que continuar escolhendo entre o ruim e o pior, e não importa a escolha eles arrancariam mais um pedacinho de você, até não restar mais nada. Aos 25 anos a maioria estava acabada. Toda uma maldita nação de bunda-moles dirigindo automóveis, comendo, tendo bebês, fazendo tudo da pior forma possível, como votar em candidatos à presidência que os lembrassem de si mesmos.

Eu não tinha interesses. Não tinha interesse em nada. Não tinha ideia de como iria escapar. Pelo menos, os outros, tinham algum gosto pela vida. Pareciam entender algo que eu não entendia. Talvez eu estivesse por fora. Era possível. Eu frequentemente me sentia inferior. Só queria ir para longe deles. Mas não havia nenhum lugar para ir. Suicídio? Jesus Cristo, apenas mais trabalho ainda. Sentia vontade de dormir uns cinco anos seguidos, mas eles não me deixariam.”

2-“Reunidos em volta de mim estavam os fracos ou invés dos fortes, os feios ao invés dos bonitos, os perdedores ao invés dos ganhadores. Parecia ser meu destino viajar naquelas companhias por toda a vida. Isso não me aborrecia tanto quanto o fato de que eu parecia irresistível para esses companheiros idiotas e estúpidos. Eu era como um lixo que atraía moscas em vez de uma flor desejada por borboletas e abelhas.”.

3-“Eu podia ver o meu futuro bem na frente. Era pobre e continuaria sendo pobre. Mas não era particularmente dinheiro que eu queria. Eu não sabia o que eu queria. Sim, sabia. Queria um lugar para me esconder, algum lugar onde uma pessoa não tivesse que fazer nada. O pensamento de me tornar alguma coisa, não apenas me apavorava, mas me deixava enojado. O pensamento de me tornar advogado, um membro do conselho ou um engenheiro, qualquer coisa assim, parecia impossível para mim. Casar, ter filhos, ficar enroscado na estrutura familiar. Ter que ir para algum lugar todos os dias trabalhar e voltar. Era impossível. Fazer coisas, coisas simples, tomar parte em piqueniques familiares, Natal, 4 de Julho, o Dia do Trabalho, o Dia das Mães... será que um homem nasce apenas para suportar essas coisas todas e depois morre?”.

4- “E minhas próprias coisas eram tão más e tristes, como o dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, apesar de nunca ser o suficiente. A bebida era a única coisa que não deixava o homem ficar se sentindo inútil e atordoado o tempo todo. Tudo mais te pinicando, te ferindo, despedaçando. E nada era interessante, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses putos pelo resto da minha vida, pensava. Deus, eles todos tinhas cus, e órgãos sexuais e seus sovacos. Eles cagavam e tagarelavam e eram tão inertes quanto bosta de cavalo. As garotas pareciam boas à distância, o sol provocando transparências em seus vestidos, refletido em seus cabelos. Mas chegue perto e escute o que elas tem na cabeça sendo vomitado pelas suas bocas. Você ficava com vontade de cavar um buraco sobre um morro e ficar escondido com uma metralhadora”.


Bom, para finalizar, posso dizer que amei o livro, ele é curto, bem rápido de ler, a narrativa é super gostosa, o enredo é bem legal e muito atual, e principalmente para você, jovem revoltado, leia Misto Quente, e você verá que não está sozinho nessa ;)

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