A resenha de hoje tratará do livro Garota Exemplar (Gillian
Flynn). Publicado em 2012, o livro se tornou famosíssimo no Brasil após o
filme, de mesmo nome, estrelado por Ben Affleck e Rosamund Pike.
O enredo é sobre uma mulher que desaparece suspeitosamente
em seu quinto aniversário de casamento, justo uma noite depois de ter brigado
feio com o marido. Quando uma investigação policial começa, não há muitos
suspeitos, a não ser o próprio Lance Nicholas Dunne, cônjuge de Amy Elliott
Dunne.
É muito legal a narrativa, pois temos a esposa, Amy,
descrevendo o começo da relação por meio de um diário, e todo o fascínio
inicial, e também o esposo, Nick, narrando no presente sobre uma
relação terrível e instável. Isso faz com que a cada hora estejamos do lado de
um.
Mesmo com uma esposa tão amável nos relatos do diário,
porque Nick parece tão aborrecido? O marido está ou não envolvido em seu
desaparecimento?
O livro é bem legal, porém comprido, e quando houve uma
importantíssima revelação no meio do livro, fiquei preocupada: o que mais
aconteceria nessa história? Ficaria enrolando até o final? Mas posso dizer que fui
surpreendida. Quando achei que a história estava ficando sem sentido, Gillian
veio, deu razões, e me convenceu. O final é o mais legal, já que você espera
tudo, menos o que acontece.
Selecionei uns trechinhos bem legais, nada de spoiler, só
para quem se interessar ter um gostinho de algumas reflexões bem interessantes,
que recheiam a narrativa.
“Nenhuma
relação é perfeita, dizem eles, que se contentam com sexo protocolar e com os
rituais flatulentos da cama, que aceitam TV como conversa, que acreditam que
capitulação marital — sim, querida, claro, querida — é o mesmo que chegar a um
acordo. ‘Ele está fazendo o que você manda porque não se importa o bastante
para discutir’, eu penso. ‘Suas exigências medíocres simplesmente fazem
com que ele se sinta superior, ou ressentido, e um dia ele vai trepar com uma
bela e jovem colega de trabalho que não lhe pede nada, e você ainda vai ficar
chocada’.”
“Eu literalmente já vi tudo, e o pior, o que faz com que eu
queira explodir meus miolos: a experiência de segunda mão é sempre melhor. A
imagem é mais nítida, a visão é mais intensa, o ângulo da câmera e a trilha
sonora manipulam minhas emoções de uma forma que a realidade já não consegue
fazer. Não sei se a essa altura somos realmente humanos, aqueles de nós que são
como a maioria de nós, que cresceram com TV, filmes e agora internet. Quando
somos traídos, sabemos quais palavras dizer; quando um ente querido morre,
sabemos quais palavras dizer. Quando queremos bancar o fodão, o espertinho ou o
idiota, sabemos quais palavras dizer. Todos trabalhamos a partir do mesmo
roteiro gasto.
É uma época muito difícil para ser uma pessoa, apenas uma
pessoa real, de verdade, em vez de uma coleção de traços de personalidade
escolhidos de uma interminável máquina automática de personagens.”
“Para Amy, o
amor era como drogas, álcool ou pornografia: não havia limite. Cada exposição
precisava ser mais intensa que a última para alcançar o mesmo resultado.”
*trechos da narrativa de Nick
Enfim, é um livro que poderia ser mais sucinto; entretanto,
é de alta qualidade, com um enredo cheio de reviravoltas e fazendo-me apreciar
muito a leitura.
(MOMENTO DESABAFO) SPOILER
Queria dizer que, para mim estava tudo ótimo na história.
Até Amy não estar mais narrando por meio do diário, e sim, sendo ela mesma.
Há partes da história difíceis de engolir: Amy pega Nick a
traindo no primeiro dia, tipo, não poderia desconfiar após alguns meses do
caso? Ou outro absurdo, Amy marcar todos os artigos comprados por ela com as
digitais de Nick enquanto ele dorme. What?
Há também algumas
coisas sem sentido: a Amy do diário não queria terminar com Nick, ela o amava
incondicionalmente, o respeitava e queria fazer dar certo. Mas a Amy real?
Aturaria ir para uma cidadezinha por quê? Ainda em NY, o casamento deles já
está desfalecendo, e considerando a Amy real, ela já teria metido um pé na
bunda de Nick a tempos. Acredito que se Amy fosse realmente a esposa boazinha,
que surta e resolve se vingar do marido, seria mais surpreendente do que uma
mulher já surtada, que enganara o cara para fazê-lo casar com ela, querer se vingar
de uma traição.
Mas enfim, quem explica uma pessoa louca? E esses
pensamentos foram antes de descobrir que Amy vinha montando planos diabólicos
para quem a decepcionava/incomodava há anos. Acabei convencida dos motivos de
Amy e gostando bastante do livro.