Afinal, apesar de Bernardo Guimarães escrever sobre a escravidão antes da abolição da mesma no Brasil, já não era mais novidade, pois o livro foi escrito mais de dez anos depois da abolição da escravidão negra americana.
Uma coisa que me incomodou, é que o autor não desenvolve a temática de escravidão, os sofrimentos etc.: Trata-se apenas de um romance bobo e chato.
O principal elemento da história é o amor, pois Leôncio nutre um amor obsessivo por Isaura, sua escrava, e Álvaro, por sua vez, mesmo sendo da alta classe, ama a pobre escrava por sua simplicidade e beleza (nem um pouco clichê).
A única parte que realmente gostei do livro, é lá para o final dele, onde há algumas duas páginas em que Álvaro e seu amigo advogado discutem sobre a escravidão, a sociedade, os preconceitos e coisas relevantes, que realmente nos fazem pensar. Se o livro tivesse mais trechos assim, com certeza seria muito melhor.
TRECHO ÁLVARO E GERALDO DISCUTINDO SOBRE A ESCRAVIDÃO
- E agora, o que pretendes fazer?...
- Pretendo requerer que Isaura seja mantida em liberdade, e que lhe seja nomeado um curador a fim de tratar do seu direito.
- E onde esperas encontrar provas ou documentos para provar as alegações que fazes?
- Não sei, Geraldo; desejava consultar-te, e esperava-te com impaciência precisamente para esse fim. Quero que com a tua ciência jurídica me esclareças e inspires neste negócio. Já lancei mão do primeiro e mais óbvio expediente que se me oferecia, e logo no dia seguinte ao do baile escrevi ao senhor de Isaura com as palavras as mais comedidas e suasivas, de que pude usar, convidando-o a abrir preço para a liberdade dela. Foi pior; o libidinoso e ciumento Rajá enfureceu-se e mandou-me
em resposta esta carta insolente, que acabo de receber, em que me trata de sedutor e acoutador de escravas alheias, e protesta lançar mão dos meios legais para que lhe seja entregue a escrava.
- É bem parvo e descortês o tal sultanete, - disse Geraldo depois de ter percorrido rapidamente a carta, que Álvaro lhe apresentou; - mas o certo é que, pondo de parte a insolência...
- Pela qual há de me dar completa e solene satisfação, eu o protesto.
- Pondo de parte a insolência, se nada tens de valioso a apresentar em favor da liberdade da tua protegida, ele tem o incontestável direito de reclamar e apreender a sua escrava onde quer que se ache.
- Infame e cruel direito é esse, meu caro Geraldo. É já um escárnio dar-se o nome de direito a uma instituição bárbara, contra a qual protestam altamente a civilização, a moral e a religião. Porém, tolerar a sociedade que um senhor tirano e brutal, levado por motivos infames e vergonhosos, tenha o
direito de torturar uma frágil e inocente criatura, só porque teve a desdita de nascer escrava, é o requinte da celeradez e da abominação.
- Não é tanto assim, meu caro Álvaro; esses excessos e abusos devem ser coibidos; mas como poderá a justiça ou o poder público devassar o interior do lar doméstico, e ingerir-se no governo da casa do
cidadão? que abomináveis e hediondos mistérios, a que a escravidão dá lugar, não se passam por esses engenhos e fazendas, sem que, já não digo a justiça, mas nem mesmo os vizinhos, deles tenham conhecimento?... Enquanto houver escravidão, hão de se dar esses exemplos. Uma instituição má produz uma infinidade de abusos, que só poderão ser extintos cortando-se o mal pela raiz.
- É desgraçadamente assim; mas se a sociedade abandona desumanamente essas vítimas ao furor de seus algozes, ainda há no mundo almas generosas que se incumbem de protegê-las ou vingá-las. Quanto a mim protesto, Geraldo, enquanto no meu peito pulsar um coração, hei de disputar Isaura à escravidão com todas as minhas forças, e espero que Deus me favorecerá em tão justa e santa causa.
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